01/02/2013

Capas Históricas V



Salvo as devidas distâncias, e são muitas, o atual momento do nosso rival da 2ª Circular tem vários paralelismos com o período mais negro da História do Glorioso, o final dos anos 90. Em particular, o volte-face que a suposta transferência do avançado romeno Marius Niculae para o Sporting sofreu durante o dia de hoje, trouxe-me à memória a célebre novela nórdica que estava no ar no início da temporada 99/00, a novela Rushfeldt.

Em Julho de 1999, o Presidente Vale e Azevedo procurava um avançado para colmatar as saídas de Martin Pringle, "o carteiro de Gotemburgo", e de Brian Deane, um "tosco" que deixou saudades na Luz, pela sua eficácia e pelo seu perfil de "bom gigante", sempre apreciado no 3º anel. Ambos haviam emigrado para Inglaterra a meio da temporada 1998/1999, deixando vago o lugar ao lado de Nuno Gomes no ataque encarnado. O escolhido para enfrentar a hercúlea tarefa de substituir os dois matadores foi Sigurd Rushfeldt, um ponta-de-lança internacional norueguês que brilhava como estrela maior do Rosenborg, equipa que na altura raramente falhava presença na Champions. Na seleção, Rushfeldt pertenceu à geração de ouro do futebol norueguês, tendo inclusive partilhado o duche com Tore Andre Flo e Ole Gunnar Solskjaer, dois nomes maiores do futebol daquele abastado país escandinavo. No verão de 1999, os golos marcados na Noruega e por essa Europa fora faziam de Sigurd Rushfeldt um nome da moda, sendo ferozmente disputado por Marselha e Real Sociedad. No entanto, numa jogada mestre, Vale e Azevedo antecipou-se à concorrência e mandatou o empresário José Veiga para viajar até à Noruega, conseguindo assim arrebatar o leilão do norueguês, contratando-o por 750 mil contos (3,75M euros... um Balboa, portanto). Estava encontrado o sucessor dos também nórdicos Manniche e Magnusson, avançados de impressionante estampa física que brilharam no Benfica da década de 80.

Ou talvez não fosse bem assim... Rushfeldt foi apresentado na Luz e vestiu mesmo o Manto Sagrado, ladeado pelo Presidente JVA e por José Capristano (na foto), tendo voado de imediato para a Áustria, onde os seus companheiros se encontravam em pleno estágio de pré-época. No entanto, nos dias que se seguiram, o Benfica não conseguiu apresentar as garantias bancárias necessárias à viabilização da transferência e Rushfeldt foi ordenado a regressar à casa de partida, tendo o negócio ido por água abaixo. Esta pelo menos era a versão do Rosenborg. Já Vale e Azevedo, refutou esta teoria, argumentando que o jogador tinha sido devolvido ao remetente por não ser capaz de lidar com a pressão inerente a vestir a camisola do Glorioso. Na verdade, JVA admitiu na imprensa que o avançado norueguês se havia "mijado nas calças" quando confrontado com tamanha massa adepta, não tendo portanto o caráter nem o calibre necessários para atuar perante o 3º anel. Para conforto dos adeptos encarnados, JVA garantiu que um avançado melhor, mais jovem e de maior nomeada, estava já garantido e que iria chegar nos próximos dias. E foi assim que o lendário matador madrileño Tote chegou à Luz.

Terminado o papel do Benfica nesta novela, faltava apenas decidir o destino do outro protagonista. Rushfeldt acabou por assinar pelo Racing de Santander, onde ficou durante época e meia, sempre com papéis secundários.

1 comentário:

Gonçalo disse...

Lembro-me perfeitamente disso. Num dia tínhamos reforço, no outro dia não tínhamos...

Penso que o Vale e Azevedo também disse na altura que o jogador "chorou como uma madalena" quando chegou ao Benfica.

Depois da desilusão Rushfeldt depositei muitas esperanças no Tote, que segundo a revista do Benfica, era um jogador que o Real não queria vender mas apenas emprestar porque era mesmo craque.

Uma comédia, esses anos (se não fossem tão trágicos).